sábado, 2 de maio de 2009

Do Teatro do Oprimido ao Grupo Reart.


Em meados de 2007, recém formado no curso de Ciências Sociais, comecei a dar aulas de Sociologia para alunos do Ensino Médio, diante os alunos me esforçava para aplicar os conteúdos propostos, assim como, promover discussões e fomentar ações de reflexão sobre a realidade social, os resultados não foram alcançados como previa e uma certa sensação de impotência começou a pairar sobre esse que vós fala. Me perguntava como conseguiria colocar o pensamento teórico da Sociologia de uma maneira pratica aos meu alunos?
Foi com essa primeira angustia que comecei a procurar entender o Teatro do Oprimido, já tinha algumas noções sobre esse método, nas conversas com Gil e Glauco na universidade, mas ainda não entendia sua atuação e seu posicionamento político, veio então o convite de fazer oficinas todo sábado de manha na Casa do Teatro do Oprimido.
O primeiro contato provocou um certo estranhamento, nunca havia feito teatro e não conseguia entender o por que daqueles jogos e exercícios que eram aplicados pelo Gil nas oficinas, após vários questionamentos e algumas leituras o método começou a se clarear diante meus olhos, a primeira cena- fórum que fizemos era sobre uma opressão que um dos integrantes do grupo sofreu ao tentar uma vaga em um colégio publico, pois esse só queria aceitar alunos com ótimas notas. O problema real estava posto, porem muitas duvidas ainda pairaram sobre minha cabeça, achava a discussão pertinente, porém, muito fragmentada, achava que faltava alguma coisa.
Sorte minha que essa sensação que eu tinha, já estava sendo construída pelos multiplicadores do FTO, ainda naquele ano se via uma preocupação constante em trazer o problema do individual para o social, isso começou a ficar evidente para mim, quando o Grupo Caos e Acaso, montava a peça “Construção”, essa peça foi o ponto que me ligou definitivamente ao Teatro do Oprimido, consegui a partir desse ponto visualizar que essa metodologia realmente poderia ser revolucionaria, pois a peça apontava discussões bastantes pertinentes ao mundo do trabalho, a cada fórum aberto mais me pegava pensando sobre o método.
A partir daí me aproximei cada vez mais da fabrica e comecei o estudo pratico do método, fiz varias outras oficinas e junto com alguns estudantes universitários montamos o Grupo Mandinga de Teatro do Oprimido, onde nosso coringa foi Glauco Garcia, que nos ajudou muito, principalmente no estudo da estética do oprimido. Depois disso fiz o curso de formação de multiplicadores e o estudo passou a ser mais serio e sistematizado.
Em 2008 inscrevi um projeto para dar oficinas de Teatro do Oprimido no FERA (Festival de Artes da Rede Estudantil – PR), projeto esse que foi aprovado, eram cinco dias de evento, eu tinha quatro horas diárias durante cinco dias para das as oficinas. É incrível o quanto o conhecimento sobre o método se amplia quando você ministra oficinas, no final do processo apresentamos duas cenas – fórum e o mais importante o pedido dos alunos pra se fazer um grupo permanente.
Nesse contexto nasce o Grupo Reart de Teatro do Oprimido, grupo da cidade de Cornélio Procópio-PR, que surgiu em outubro de 2008, com onze integrantes. Passamos a nos reunir semanalmente e fizemos com calma todos os processos de criação de um espetáculo fórum, as imagens que saiam em exercícios como maquinas de ritmos me impressionava e assim sentamos pra escolher o tema abordado.
O tema que foi escolhido foi no âmbito escolar, um dos integrantes do grupo havia sofrido racismo, por parte dos alunos, em um colégio privado no qual ele tinha se matriculado por bolsa de estudos, ao escolher essa entre varias outras opressões, começamos a ensaiar a peça. Tínhamos duas semanas pra ensaiar e já iríamos apresentar na Amostra do Teatro do Oprimido em Londrina, no projeto Teatro do Oprimido de ponto a ponto, achamos necessário esse dialogo entre o problema individual e o social e na abertura da peça fazíamos um barco com os atores, no meio do barco, como se dentro dele, saia dois negros amarrados e um branco com chibatas, todos os atores que faziam a imagem do barco cantavam “ Que navio é esse que chegou agora, é o navio negreiro com escravos de Angola”. O navio parava, desciam os negros sendo açoitado pelo branco e sendo obrigados a trabalhar, nesse trabalho construíam a sala de aula, saiam e começava a cena – fórum sobre o racismo.
Após a apresentação, fomos chamados a conversar com um multiplicador do CTO-Rio que estava no evento, ele diz que a vontade do oprimido não esta clara e pede que em vez do barco se tente mostrar a vontade desse oprimido, eu procurei experimentar tal sugestão e a cena então mostrou o processo de seleção para a bolsa de estudos, o espetáculo ficou então “redondo”, porem nosso primeira problema apareceu no grupo, não sei se um problema metodológico ou ideológico. Ao eliminar o navio que havíamos construído nos exercícios, ficamos com a mesma sensação que eu tive quando fiz minhas primeiras oficinas, a fragmentação da discussão e a falta de uma analise social, nós do grupo sentamos e conversamos sobre isso e estamos novamente encaixando a cena da navio negreiro.
Aliás esse problema no qual nos passamos, é bastante discutida dentro do FTO, analisamos a necessidade eminente desse dialogo Individuo/Sociedade e percebemos que esse tema esta cada vez mais sendo alvo de reflexões de vários multiplicadores de T.O pelo Brasil, acho de extrema importância trazer esse fator nas peças – fórum, para que possamos construir efetivamente um teatro revolucionário, comprometido com a transformação da sociedade através da formação de um cidadão, mas não um cidadão passivo e conformado, e sim um cidadão que seja ativo e critico à realidade que o cerca.

sábado, 22 de novembro de 2008

V Amostra de Teatro do Oprimido em Londrina.


Salve salve caros companheiros, nessa postagem de hoje quero falar um pouco da já tão famosa Amostra de T.O, assim como, a participação do nosso grupo Reart de T.O de Cornélio Procópio no evento.
A quinta edição da amostra, foi novamente, muito boa. Todos os propósitos de uma amostra que se chama nacional, foram alcançados, mais ainda, sendo que havia também a galera responsa da Argentina que nos deixou muito feliz de saber que fora do Brasil se faz um ótimo Teatro do Oprimido.
Troca de idéias e experiências, dicas e criticas conversas e discussões, lucidez e loucuras, tudo estava presente na amostra, cada um dos grupos que aqui vieram deixaram uma marca forte e um pensamento confortante de muita competência no fazer um teatro transformador e critico. GTO e seus posicionamentos mais a esquerda, que nos mostra a necessidade da militância coerente na busca de um mundo melhor; Grupo de segunda, sempre quebrando paradigmas e nos fazendo repensar a própria metodologia do T.O; GATO que trouxe meninos ainda tão jovens, mas super preocupados no fazer teatral; El inferno de los vivos, grupo argentino que mostra uma garra enorme e uma preocupação latente da realidade de seu país, pessoas que devem servir de exemplo pra muitos dos nossos grupos brasileiros; Pirei na cenna, grupo do Rio de Janeiro que dispensa qualquer comentário, peça maravilhosa que realmente mexeu com o publico no CAPS e seus integrantes pessoas de uma sensibilidade e alegria que realmente emocionam a gente.
Em meio a tudo isso, levamos pra amostra o nosso humilde mas grandioso grupo Reart, foi uma experiência monstro, grupo formado em apenas 2 semanas, mas com um entrosamento humano de quem já passou muito tempo junto, a molecada do Reart ta de parabéns, por tudo que tem feito e pode esperar que no que depender desse seu multiplicador ainda vamos correr muito esse mundo pra tentar transforma-lo, vocês realmente surpreenderam o Tio Ton aqui, me deixaram com sede de fazer muito mais, vamos lá galera!!!
Não poderia terminar sem antes falar do mais importante dentro de tudo isso, o FTO, a nossa querida Fabrica de Teatro de Londrina, grupo esse que me considero membro, visto a camisa e bato no peito com orgulho de me afirmar um trabalhador dessa Fabrica, Fabrica que não possui patrão nem empregado, que nos da nossa liberdade de ação. Mas temos dois anjos da guarda que zelam e investem nessa fabrica, Gil Roberto Salles e Nadia Burke, são aqueles tipos de pessoas com luz própria e energia divina, que pegam as coisas e as transforma sempre pra melhor, lutam por um ideal de transformação, crêem no ser humano e sabem que ele é capaz de criar o novo e o melhor, obrigado por tudo isso meus irmãos.
Mas toda a Fabrica esta de parabéns, Cesinha que é outra pessoa iluminada, Débora que é quase uma guerreira medieval de tanta força, o Glauco meu irmão de fé e um artista completo que não abandona as ferramentas da revolução, a Carol que mais parece um anjinho indefeso, mas se mostra cada dia mais forte, responsável e essencial pro FTO, a Mari que é só alegria e luz e o Luca que suou e muito a camisa pra fazer esse sonho funcionar. A todos que participaram da amostra, meus mais sinceros agradecimentos e a todos meus irmãos de FTO um abraço revolucionário enorme.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A "direta" de Bertolt Brecht


Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.


É da empresa privada o seu passo em frente,seu pão e seu salário.


E agora não contente querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.


Bertolt Brecht
(1898-1956)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Que rufem os tambores


A fanfarra esta na rua, não! Não é o sete de setembro que esta nas vésperas, é a fanfarra da eleição política. Certo dia um amigo meu, Robson Vilalba, disse que eleição é que nem carnaval, ninguém é de ninguém, a mim só resta concorda com essas sabias palavras, porque o que mais vejo nessas eleições são as velhas amarras de favores é igual a votos, um empreguinho aqui, um favorzinho acolá e tudo novamente se torna natural, como aquele carro de som que insiste em tocar uma parodia mal feita e insuportável.
Tentemos ser racionais, e antes de criticar tentar entender porque que isso sempre acontece? O povo tem culpa? E a elite? A verdade é que somos um povo que aprendeu a se virar sozinho, nunca a gente pode contar com as esferas publicas e também nunca tivemos muito saco pra fica discutindo as coisas chatas que só a linguagem pedante das elites consegue entender, eles discutem e a gente engole.
Por exemplo, quem é que tem a coragem de dizer que o discurso de que se os empresários estão felizes é sinal de prosperidade e empregos pra sociedade, já não foi engolido pelo povo? Se cristalizou uma idéia em todos os segmentos políticos de que a felicidade da nação é a felicidade de uma minoria que detém a produção e os financiamentos no país, meu deus, quem que instituiu isso? Eu fico doido de o obvio ser tão incorreto e sinto um pouco de desesperançado de ver que o pensamento revolucionário se limita hoje no Brasil a três piadas com sussurros de sobrevivência: PCB, PSOL e PSTU que sinceramente não vão chegar a lugar algum.
É meus caros amigos, ainda é possível se buscar a emancipação humana? Questões essas que ninguém quer mais saber! Coisa chata esse negocio de política.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Pra tú Gui


No começo do ano, quando postei o texto "estética política", recebi uma critica muito bem feita de meu amigo Guilherme Bordonal, agora que eu voltei a escrever nada mais justo com meu querido amigo de direita que tentar responder suas ótimas pontuações.
Não, o PT não é a esquerda que era antes, é fato que o foco do partido saiu do âmbito leninista e se aproximo de uma tendência Gramsciniana, mas meu amigo é evidente que o PT não esta em nenhum âmbito marxista, nem Gramsci nem Lênin, aquilo lá hoje é pura social democracia, eles usam o jargão de sociedade civil organizada e não de sociedade em trabalho de consciência de sua situação de exploração.
No começo da década de setenta (em meio ao Estado de Bem-Estar Social), um sociólogo francês chamado Allan Toureine, explicita o nascimento de uma sociedade pos- industrial, para ele a sociedade da época superou a luta de classes, pois ouve uma conciliação entre capital e trabalho, a partir de então o mundo não poderia mais ser visualizado como classe explorada e exploradora, para provar sua tese Toureine cita o surgimento dos movimentos sociais organizados pela sociedade civil, movimento esses que não brigam mais pela a questão de classes e sim para melhorias fragmentadas no corpo político- estatal.
É nesse pensamento que o PT age, ele não pretende, como todo partido marxista, evidenciar como o capitalismo cria a exploração do homem pelo homem, ele se preocupa em torna essa sociedade apta para reinvidicar e fiscalizar algumas ações de "bem-comum", isso para mim não é a busca pela hegemonia que se referia Gramsci e sim uma síndrome Social Democrata de um Estado de Bem-estar Social.

Vóa canarinho, vóa.


Caros amigos que são coniventes ao mundo do futebol, venho aqui pra tratar algo muito serio para o mundo futebolístico, a Eurocopa, do jeito que coisa ta a seleção canarinho vai terminar em alguma gaiola de um buteco sujo no norte do Brasil, é a parte que nos caberá nesse latifúndio.

Sempre fui um amante do futebol, o tipo do torcedor que sempre quer saber mais do time da vila do que os potentes europeus, mas diante do espetáculo futebolístico exibido na eurocopa não posso deixar de declarar aqui minha surpresa e minha preocupação diante dos jogos da Eurocopa.

Surpresa porque não sabia que o nível técnico das seleções européias esta tão alto e preocupação porque nossa seleção vai dar vexame na áfrica daqui dois anos, eu sei que na hora a gente surpreende e a camisa pesa e blá blá blá, mas é no mínimo burrice achar que o dunga é capaz de fazer aquilo lá aqui no nosso pais, lanço aqui abertamente o meu repúdio a continuação do Dunga na seleção, nada contra ele, mas pelo amor de Deus ele nunca treino nada na vida dele, além de que ele entrou na seleção pra mostra mudança, mais segue a mesma apostilinha de folhas amarelas que o Parreira e Zagalo, onde ta a mudança ai???

O canarinho realmente foi tirado de seu habitat e vendido para os ricos europeus, tão fascinados com o exotismo dos trópicos, mas à hora é de mostrar que os canários de casa, esses sim é que fazem milagres, pra canário europeu piar de galo eles precisam rebolar muito, é isso que a seleção sem dunga deve fazer.

Luiz Carlos Prestes na Roda Viva


Hoje eu pude assistir, através do youtube, ao programa da TV Cultura, Roda Viva, gravado em 1986, o entrevistado era Luis Carlos Prestes, fiquei muito surpreso de saber que ele chegou a ser sabatinado por esse tão famoso programa, Prestes apesar de estar bem velhinho apresentava uma lucidez comunista absurdamente coerente, talvez um dos últimos verdadeiros comunistas.

Prestes foi catedrático para definir o porque o marxismo nunca conseguiu se firmar em solos tupiniquins, "a esquerda brasileira não consegue compreender a realidade brasileira", admitiu ter errado em 1945 quando ele e todos os integrantes do PCB acreditavam que no Brasil não existia Capitalismo, pensamento que o fez se aliar a setores da burguesia na intenção de se fazer a revolução burguesa antes da socialista.

Na época dessa entrevista o Brasil passava pelas vésperas de uma constituinte, o governo Sarney procurava uma formula mágica para a inflação, enquanto isso, toda a esquerda se desmembrada e se digladiava, os partidos burgueses davam a mão para garantir seus "direitos", e construir sua constituinte.

Escrevo esse texto porque admirei e muito a autocrítica de Prestes, uma das pessoas mais importantes na política brasileira no séc. XX, admitiu erros, considerou acertos e tentou mostrar soluções, espero que um dia os partidos de esquerda possam conseguir fazer o mesmo, antes que seja jogado a ultima pá de terra em cima deles.